Pelo Avesso: a Moda Feita à Mão para além da Alta Costura

Hoje (25/05) dia da costureira, vamos relembrar um assunto já abordado por aqui: a importância da rastreabilidade e transparência na indústria fashion, dois pontos de atenção que estão intrinsecamente ligados ao questionamento dos impactos da cadeia produtiva da moda na vida das milhares de mulheres que, costurando, vestem essa indústria gigantesca que é a moda.

Esse mercado, que concentra uma força feminina através das ágeis mãos que tecem a história da moda, também revela a vulnerabilidade oferecida ao gênero que transforma sonhos em marcas.

FOTO: GETTY IMAGES.


A nível global, segundo o documentário True Cost, estima-se que 85% dos trabalhadores da indústria têxtil são do gênero feminino, um número que não carrega nenhuma novidade ou coincidência: as mulheres passaram a ser protagonistas desse mercado desde a Primeira e Segunda Revolução Industrial e, apesar de parecerem lugares de destaque, nós continuamos sendo a minoria em posições de liderança nessa indústria.

Se por um lado aumentamos o número massivo de empregos nas fábricas, por outro, aumenta-se os índices de baixa remuneração, incentivo à imigração, falta de proteção trabalhista, entre vários outros critérios sociais


A invisibilidade desse gênero teve uma falsa esperança com o surgimento da macrotendência handmade, que surgiu com o propósito de valorizar peças feitas em processos manuais, mas a valorização dos itens "feitos à mão" ao longo dos últimos anos, também tentou abraçar o que o que as mãos dessa cadeia produtiva nunca conseguiram alcançar: 
verdadeiras transformações na realidade concreta das costureiras que não estão inseridas nos padrões da alta costura, ainda que, inevitavelmente, toda e qualquer produção de moda dependa de um processo manual.


FOTO: BRAG MY BAG.


Isso porque a Alta Costura sempre se baseou nesse tipo de processo e, consequentemente, no padrão que ele oferece. Mas precisamos lidar com a realidade da moda para além dessa fatia elitista da indústria: as costureiras são a classe trabalhadora mais expressiva da moda e elas estão em todas as cadeias produtivas desse mercado, seja em redes de fast-fashion, seja em maisons de luxo. 

A costura é um dos únicos processos na indústria têxtil que, ainda que dependente em grande parte de máquinas, não foi totalmente automatizado mas, ironicamente, é o setor que frequentemente reporta problemas relacionados às condições de trabalho. 



FOTO: MODEFICA.

Portanto, ao falarmos de processos e produções cada vez mais sustentáveis em um consumo cada vez mais consciente, precisamos ter em mente que todas as mãos por trás de todas as peças e acessórios de moda precisam e devem ser valorizadas, estejam elas por trás de marcas mundialmente desejadas ou por trás de marcas que nem sempre são reconhecidas. 



25/05/2023 
SUSTENTABILIDADE | POR RENATA FERNANDES