Isto não é uma camiseta
Segundo o relatório Fios da Moda, a fabricação de uma única camiseta, consome, em média, até 1.500 litros de água, o mesmo valor estimado de novas árvores plantadas na próxima década através da Gringa, graças à compensação feita com o selo Eu Reciclo.
Isso é sobre o que veste pessoas, números da indústria, empregos e impactos, e isso nos diz muito sobre a importância do mercado de resale, que atualmente abraça grandes players, como o The Real Real e Fashionphile, empresas que realmente adotam práticas pautadas nos propósitos socioambientais, andando na contramão da fabricação e consumo excessivo e irresponsável.
Fonte: Modefica.
O que uma peça de roupa, uma semana e uma década nos mostram sobre o papel da moda nessa história que queremos contar? A resposta, apesar de envolver vários outros personagens igualmente importantes no enredo da sustentabilidade, é simples: transparência.
Tanto no Brasil, quanto no mundo, relatórios sobre o mercado de itens de segunda mão são rápidos em afirmar que o aumento dos números está relacionado com a demanda da sociedade por consumo consciente, tema que tem caído no gosto popular, estampando notícias, campanhas publicitárias e protagonizando discussões importantes e, essa semana em especial, não foi diferente.
Uma semana que nos trouxe reflexões em dose dupla: o dia da Terra (22/04) e o dia que marcou 10 anos do desabamento do edifício Rana Plaza (24/04). O que a moda e a sustentabilidade têm em comum com essas duas datas tão importantes é o mesmo que nós temos em comum com o mundo nas nossas escolhas de consumo.
Foto: The New York Times.
Em 24 de abril de 2013, o edifício que abrigava confecções de roupas em Bangladesh, foi palco de um cenário que deixou mais de 1.100 mortos e 2.500 feridos, todos vítimas de trabalho análogo à escravidão em uma cena protagonizada por roupas cada vez mais baratas e atrativas no fast fashion.
Repensar o que compramos e ressignificar o que já temos são apenas duas iniciativas de um modo de vida mais sustentável. Precisamos questionar e cobrar as marcas: quem fez as nossas roupas, bolsas e sapatos? Qual a origem da matéria-prima dessas peças e como elas são fabricadas?
Foto: Vogue UK.
Com cada vez mais consumidores adeptos a comprar sem peso na consciência, o mercado de segunda mão, em suas várias formas, aparece como alternativa para esse consumo. Mas comprar cinco peças usadas, ao invés de cinco itens novos, não torna as nossas escolhas mais sustentáveis. É necessário ir além: repensar o consumo ao invés de apenas transferi-lo.
Promover o debate real entre o público, democratizar a linguagem da moda sustentável e a realidade da indústria da moda em si, são caminhos possíveis para realmente garantir que o consumo de roupas de segunda mão seja principalmente sobre salvar o planeta e a sociedade, não apenas sobre comprar mais barato. Sustentabilidade vai além de como consumimos: é sobre como nos relacionamos com o mundo que acreditamos.
Levantar questionamentos às marcas e suas cadeias produtivas é tão importante quanto questionar as legislações brasileiras e incentivos fiscais, apoiar a criação e fiscalização de normas e certificações e, principalmente, cobrarmos a nós mesmos uma nova forma de olhar para a sustentabilidade para além de uma peça de roupa.
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