O second hand como solução ao imediatismo

A produção acelerada e o consumo imediato são os dois fatores mais importantes na equação da fast fashion: problema urgente da indústria têxtil desde a década de 90 que segue provando que a moda, mais do que uma forma de expressão corporal, é uma relevante manifestação cultural que reflete fatores ambientais, sociais e econômicos.

Desde a Revolução Industrial, evento que possibilitou o surgimento do prêt-à-portera produção desenfreada vem sendo cada vez mais cobrada pelo comportamento de consumo, um fato que os números não escondem: em 2020, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), o setor produziu 7,93 bilhões de peças que, em sua grande maioria, são confeccionadas em poliéster, fibra que possibilita o baixo custo das peças finais e, consequentemente, o alto giro. 

Só pela matéria-prima majoritariamente utilizada, os impactos negativos já são preocupantes: feito com derivados de petróleo, o poliéster contribui diretamente com o aumento das emissões de carbono além de ter uma decomposição lenta e liberar microplásticos que impactam o solo, a água e a nossa própria pele.

Estudos feitos por investigadores da University of British Columbia, no Canadá, apontam que 70 das 71 amostras de água retirada do Ártico continham microplásticos e que 67% destes microplásticos eram fibras de poliéster, concluindo que só a indústria da fast fashion emite mais CO2 do que os setores da aviação e navegação juntos.

FOTO: GEOPANORAMAS


Essa produção insustentável reflete muito uma das teorias mais latentes do consumo: o impulso pautado no desejo de afirmação do status e da posição social dos indivíduos da sociedade e, assim, também na sua identidade, onde em um cenário quem mais têm e quanto mais rápido tiver, mais poder possui.


A diferença entre a fast fashion e as marcas de luxo nesse ponto é inexistente: os produtos de ambos os mercados carregam mensagens e signos, onde “os indivíduos classificam uns aos outros através de seus bens de consumo, assim como na sua aparência e comportamento” (Lipovetsky, 1989).

Ainda nesse padrão de consumo justificado pela ascensão e imediatismo, nos últimos anos, percebemos também uma tendência fortemente dominante: o consumo de artigos de luxo não autênticos, fato explicado facilmente por essa necessidade de pertencimento, afirmação e rapidez.

Nesse conflito entre ética e conveniência como Bárbara da Le Impact pontuou em sua última publicação no Instagram da Gringa, o mercado de segunda mão assume o papel de solucionador de problemas, oferecendo aos consumidores uma democratização na moda através de preços mais acessíveis e sem comprometimento ético, social e ambiental, disponibilizando no mercado artigos provindos de uma produção artesanal e duradoura, totalmente avesso à fast fashion e ainda mais benéficos aos saldos positivos do cenário socioambiental e econômico.

Independente do cenário social, a economia circular tem crescido não somente por ser a solução mais benéfica em todos os sentidos para a indústria da moda, mas também por oferecer aos consumidores novas oportunidades de acesso de informações e compra. 

27/07/2023 SUSTENTABILIDADE | RENATA FERNANDES