JÁ OUVIU FALAR EM UPCYCLING DE JÓIAS?

Assim como a moda, a indústria de joias também enfrenta muitos desafios quando o tema é sustentabilidade. O que seriam, então, joias éticas e mais sustentáveis?

Em poucas palavras, é quando no processo de produção das joias são utilizados materiais sustentáveis, e práticas de fornecimento responsável e transparente são aplicadas na cadeia de suprimento. Joias produzidas de forma ética e sustentável impactam minimamente o meio ambiente; suas pedras e metais não estão associadas a conflitos; e trabalhadores recebem salários justos e atuam em ambientes de trabalho seguros.

Pra gente, não existe forma mais sustentável de consumir, do que optar por aquilo que já existe. Foi por isso que ao conhecermos a Olsen K, foi amor à primeira vista! As peças da marca estão disponíveis em nosso site.

A Olsen K é uma marca de joias que adota o upcycling para aproveitar todos os recursos, evitando o desperdício sem perder a sofisticação e a autenticidade. Ressignificam a ideia de valor de uma joia, para que você possa honrar a natureza e contribuir para uma sociedade mais equilibrada.

Batemos um papo com a Kika Olsen, designer e fundadora da Olsen K, que nos contou tudo sobre a marca e seu processo único de criação. Desde pequena, Kika colecionava pedras, na adolescência passava as tardes na banca do ourives trabalhando, e depois resolveu se especializar, cursando moda e então estudando gemologia e design nos Estados Unidos e na Itália. 

Por que resolveu trabalhar com o upcycling?

Eu trabalho há mais de 20 anos em joalheria. Depois de fazer estudos e trabalhar para joalheria fora do país, tive uma marca de joias com mais duas sócias por sete anos. Apesar de adorar a marca, eu não estava totalmente preenchida. Sentia um vazio. Resolvi então montar uma joalheria que tivesse mais propósito. Eu queria algo que fosse além do belo e do poder das pedras e dos metais.

Eu acredito que o real significado da joia está na joia como amuleto. E que essas pedras carregam bilhões de anos de sabedoria, elas demoram bilhões milhões de anos para se formar. Então eu acho que a joia só existe por conta dessa troca energética que precisa acontecer. Mas como trabalhar com as pedras de uma maneira mais sustentável? Foi aí que eu cheguei no upcycling. Nada mais é do que você usar os recursos da natureza da melhor maneira possível.

Que materiais você utiliza?

Na parte das pedras, a gente usa a pedra como um todo, desde o que o mercado de luxo considera mais nobre (a parte mais cristalina da pedra) até aquela parte mais bruta da pedra, que virava descarte em alguns lapidários e que hoje criamos desenhos para estas sobras, gerando um novo valor também para a cadeia produtiva.

Na parte do metal, hoje na marca a gente só usa metal de fontes de reciclagem, de joias antigas de clientes, ou de lixo eletrônico (ex. carro, eletrônicos) que passa por um rigoroso processo de purificação para garantirmos o teor de 18 quilates. 

Na Olsen, todas as joias são de ouro 18 quilates, ou prata 95, mas 100% de reciclagem.

Qual a sua percepção do mercado hoje com relação ao upcycling? Você percebe uma maior valorização do seu trabalho hoje, do que quando começou?

Com certeza sim. Quando eu comecei, em 2018, as pessoas falavam “Mas você está maluca? Quem é vai querer comprar uma joia de reciclagem? As pessoas não vão entender que ouro é ouro”. Eu tentava explicar para as pessoas e a maioria ia contra, falavam que o produto era muito caro. Até o próprio lapidário, quando eu pedi que ele fizesse uma lapidação pela primeira vez com uma parte de sobra da pedra, ele falou “não, mas esse desenho é muito bonito, você não pode usar essa sobra”.

Porém, desde o início da pandemia eu sinto um movimento muito grande, tanto de mídias sociais, revistas e outros meios, falando muito sobre a upcycling, sobre a sustentabilidade e o consumo mudando. No começo eu sentia que as pessoas consumiam a minha marca porque achavam bonito, mas sentia algumas pessoas meio receosas ao conhecerem o processo produtivo. Hoje em dia, várias pessoas chegam até mim, principalmente para as joias de casamento, buscando a marca por ser upcycling. E isso é muito maravilhoso, muito gratificante vermos esse movimento não só por nós, mas pelo planeta.

Hoje, o lapidário, que antes não dava valor para as lascas, vem aumentando o valor da lasca – o que antes era uma coisa que eles não consideravam como um material nobre. Ao mesmo tempo em que ficou mais custoso para a marca, é muito legal ver esse processo de transformação, de reconhecimento dessa gema como algo tão precioso.

Como se dá o seu processo de criação? Você parte do material que você tem disponível, e então pensa no design da peça? Ou começa com o design, e então busca o material?

As duas coisas. Às vezes eu tenho algumas pedras em estoque ou eu me encanto com alguma pedra que eu vi, e ela me leva para um caminho criativo. Outras vezes, também faço peças sob medidas para algumas clientes. Nesse caso, elas trazem alguma coisa que fazia muito sentido para elas, alguma coisa que elas ganharam de uma avó, por exemplo, e eu começo o processo criativo com uma pedra, ou às vezes eu tenho alguns insights, sabe? Eu acredito que a nossa casa, nossa cabeça, é uma caixa com muitas gavetinhas. Sou uma pessoa extremamente visual, então me inspiro muito na natureza, na arquitetura, na arte. De vez em quando tenho uns insights e começo a anotar tudo no papel – daí surge uma coleção, umas vontades. Então tem os dois lados sempre.

Sourcing – onde você busca os metais utilizados em suas joias? Quem são seus fornecedores, e qual a sua relação com eles? Que materiais são utilizados? Quando precisa utilizar metais novos, todos têm a certificação LBMA (London Bullion Market Association)? Sua matéria prima é brasileira?

Eu tenho 2 fornecedores: minhas clientes e uma empresa belga.

  1. As próprias clientes que me trazem joias para ressignificar. A cliente traz a joia que ela não usa mais, a gente paga o ouro do dia, menos 10% de fee para purificar o ouro numa purificadora de metal, localizada no interior de São Paulo, antes de religar com a nossa liga. Então emitimos uma nota de venda de compra desse metal para a cliente e ela sai com uma joia da coleção Olsen K.
  2. Uma empresa belga que tem uma filial aqui no Brasil e que possui o certificado LBMA [que garante qualidade, integridade, e responsible sourcing]. Infelizmente até hoje eu não consegui encontrar fornecedores brasileiros que atendam o padrão LBMA, mas continuo procurando. 

Processo manual e autoral: quem está por trás de cada peça da Olsen K?

A joalheria passa por muitas e muitas mãos. O processo passa comigo, a designer, e depois por uma pessoa que cuida de toda a parte de pedras, separa, analisa. Depois disso, a peça vai para o ourives. Uma vez que o ourives conclui o seu trabalho, vai para o cravador, que é quem crava as pedras. Às vezes, antes da pessoa que separa a pedra, ela ainda passa por um processo do lapidário (no caso da das lascas, a gente trabalha com bastante lapidação especial). E depois que a pedra está cravada, ela vai para o polimento e para o banho (no caso das peças de prata). Por último, ainda às vezes tem uma gravação e uma solda a laser, que é feito por mais uma pessoa.

Como eu disse, é uma cadeia de muitas mãos, que requer muito cuidado. A gente acredita que a energia da joia não está apenas na joia, mas nas mãos de cada um que passou pelo processo de fazer essa joia na cadeia produtiva.

Você acredita que mais marcas e designers deveriam adotar práticas de upcycling em seus processos criativos e de produção? Imagina o impacto no planeta <3

Com certeza. Acho que em várias áreas, e não só na área de moda. Fico muito feliz quando eu vejo grandes marcas com esse cuidado, porque eu acho que elas são as que mais impactam. 

Eu espero que um dia a gente consiga criar um grupo de joalheiros para conseguir comprar matéria prima de uma maneira menos custosa para todos, o que encorajaria mais pessoas no ramo de joalheria trabalharem com o upcycling. É possível sim trabalhar 100% de forma respeitosa, com consciência. Afinal, já temos muitos recursos aqui. Não precisamos extrair mais.

Qual o seu recado para quem nunca consumiu uma peça de upcycling ou de segunda mão?

Experimente! A sua compra vai fazer muito mais sentido. Além do mais, energeticamente falando, é muito mais gostoso usar uma peça de upcycling ou de segunda mão. Eu sou super fã da Gringa e agora vou sempre comprar minhas bolsas lá. Acabei de fazer uma compra e fiquei muito feliz! Então eu mais do que indico!

E você, já experimentou a moda circular?

#OFuturodaModaéCircular 

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