Do lixo ao luxo: a reciclagem como solução e oportunidade na economia circular

Ao contrário do ditado popular e do que muitos imaginam, a indústria da moda oferece milhares de possibilidades para prolongar o ciclo de vida dos artigos têxteis, sendo a principal delas a reciclagem, iniciativa que lidera as inovações de ecologia industrial e movimenta o cenário econômico do setor.

Esse número é urgente: segundo o Sebrae, a indústria da moda gerou cerca de 1,91 milhões de toneladas de resíduos têxteis em 2020, o que representa mais de 5% do total mundial e nos faz olhar para a problemática do descarte indiscriminado desses produtos como uma questão não só ambiental, mas também cultural, envolvendo uma produção irresponsável e um consumo inconsciente.

FONTE: FASHION REVOLUTION


A reciclagem têxtil, além de ser uma resposta emergencial aos problemas ambientais provocados por essa indústria, é também um ponto de partida para novas marcas que abracem tecnologias e designs que vêm se mostrando com uma enorme aceitação pela geração Z, como a Coachtopia, submarca da Coach lançada em abril deste ano que chega ao mercado de luxo com uma produção que visa o reaproveitamento de resíduos até então descartados e a redução da criação de novos materiais com o propósito de repensar o processo dos produtos e da marca como um todo.

FOTOS: COACHTOPIA

Atualmente, as iniciativas que abrangem novos tipos de produtos e marcas, são reflexos de um público significativamente preocupado com todos os problemas socioambientais provocados pela moda e suas buscas por um consumo cada vez mais consciente, principalmente no mercado de luxo, que conta com marcas pioneiras em tendências comportamentais.

Nesse cenário, a indumentária é uma das mudanças mais aparentes já que, assim como Lipovetsky (2004) pontuou, ela é é um reflexo da cultura, representada pela riqueza de detalhes presentes em cada período da história da civilização. Sendo assim, se hoje essa indústria possui um público que não só aceita como busca marcas com tais produtos, é graças às marcas vanguardistas em posicionamentos e iniciativas mais sustentáveis, provando que a tendência da moda é, naturalmente, ser circular. 


FOTO: COACHTOPIA

Mas a reciclagem têxtil enfrenta os seus próprios desafios: o ideal é que não haja mistura de fibras de diferentes origens já que cada um desses fios necessita de técnicas e produtos distintos durante o processo de reciclagem, além de não poderem ter aviamentos de metais ou plásticos, tornando a operação dependente de um processo manual.

No âmbito têxtil, as fibras naturais são as mais práticas de serem manipuladas e, consequentemente, as com alto poder de desfibramento durante a reciclagem. Esse ponto é positivo no crescimento da economia circular já que o algodão, por exemplo, é a fibra mais consumida no país e constitui, proporcionalmente, uma considerável porcentagem dos resíduos têxteis produzidos pelas indústrias de fiação e tecelagem, confecções e descarte doméstico. 

FOTO: GRUPO EUROFIOS

Segundo Fernando Pimentel, diretor superintendente da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção), o consumo de fibras de algodão só no Brasil, entre 1970 e 2010, cresceu 248,8%. Já no mundo, no mesmo período, o crescimento foi de 108,3%. Esses dados nos levam a entender que, a reciclagem e reutilização dessa fibra deve ser considerada como uma das melhores alternativas para a diminuição do volume de lixo nos aterros sanitários já que o seu consumo está entre os mais altos e o seu potencial de reciclagem também. 

E no mercado de luxo essa solução torna-se ainda mais significativa, já que o canvas, material feito majoritariamente de fibras de algodão e muito utilizado por marcas como Louis Vuitton, Gucci e a própria Coach, além de estar presente na grande maioria dos produtos, também é uma das matérias-primas mais procuradas pelos consumidores desse segmento por ser um material de alta resistência e durabilidade. 

Além de levarmos em conta toda a questão socioambiental, também contamos com um fator econômico significativo e muito bem aproveitado pelas marcas que embarcam nesse novo mercado: uma peça produzidas com tecidos provindos de reaproveitamento pode custar até 30% a mais do que outras peças consideradas não ecológicas. Isso nos mostra que a produção de artigos têxteis ligados a processos sustentáveis deixou de ser apenas uma necessidade ambiental e transformou-se também em artigo de desejo.

E por falar em luxo, não existe nada mais valioso do que uma escolha consciente: como incentivadores da moda circular nesse mercado tão segmentado, precisamos apoiar iniciativas e marcas que busquem soluções cada vez mais sustentáveis e também adotarmos essa postura da porta para dentro. 

FONTE: FIOS DA MODA

Apesar de não atuarmos diretamente em uma cadeia produtiva, a reciclagem têxtil não se limita às confecções e pode ser inserida em qualquer etapa operacional de uma empresa. Na Gringa, contamos com a Coopama, nossa parceira responsável pela reciclagem mecânica e química dos produtos que são descartados pelas nossas clientes durante os nossos processos internos e tornam-se resíduos têxteis em nossas mãos. Com isso, aumentamos ainda mais as soluções que reduzem os impactos ambientais e prolongamos o ciclo de vida de todos os produtos que passam por nós e não somente dos que são vendidos, buscando assim, fazer a diferença na moda para além do mercado de segunda mão.

 

19/07/2023 SUSTENTABILIDADE | RENATA FERNANDES