Second Hand: a roupa usada na contramão da energia negativa
A moda, “menina dos olhos do capitalismo”, como declarado por Werner Sombart, estimula o consumo e, consequentemente, gera não só números significativos no cenário social, econômico e político, mas também comportamental. Sendo o mecanismo fundamental na engrenagem pelo qual a novidade é entregue, a moda resume essa rotatividade constante, estimulando de forma infinita a produção e o consumo.
A roupa, que no século XIX foi uma moeda de troca e objeto constantemente penhorado, hoje continua sendo protagonista no palco econômico: no Brasil, segundo a Revista Exame, o segmento movimentou, em 2022, R$229 bilhões de reais, ocupando o nono lugar no ranking mundial de maior mercado de roupas e acessórios.
Esse é apenas um dos números animadores e preocupantes, tendo em vista as problemáticas que essa indústria nos traz, pontos que percorrem um caminho contrário ao crescimento positivo: sobrecarga ambiental, incentivo ao trabalho análogo à escravidão e oniomania, também conhecida como consumo compulsivo.
Dentre as diversas soluções e inovações da indústria têxtil, o second hand assume a liderança no radar dos consumidores de moda, seja pelo anseio de soluções sustentáveis de cunho ambiental ou social, seja pela aceitação de um atual comportamento que envolve novos perfis de consumidores, como os caçadores de peças raras.
FOTO: Reprodução da internet
Mas o mercado de segunda mão, que neste mês de setembro recebe olhares ainda mais atentos graças ao movimento criado pela Oxfam, visando fomentar o consumo de peças usadas e propagar a importância da economia circular, também enfrenta os seus próprios desafios: a roupa assume um tipo de memória à partir do momento que veste uma sociedade, fazendo com que histórias sejam materializadas e contadas através do que pode ser visto, sentido e deduzido em uma roupa.
Apesar de apresentar uma grande aceitação, por diferentes motivações, o second hand ainda recebe diversos olhares duvidosos sobre as condições das peças usadas e suas marcas de uso - no sentido figurado e literal. Tais afirmações dividem opiniões: há quem olhe para as peças de segunda mão com preconceito e receio, duvidando de suas origens, assim como há quem prefira questionar e não fomentar a procedência de uma cadeia produtiva problemática e exploratória, como a do fast fashion.
O second hand já pode ser visto naturalmente como um ponto de inovação da economia circular que tem como principal objetivo prolongar a vida útil dos produtos e, atualmente, investe cada vez mais nas pesquisas e técnicas de curadoria para a extensão desse propósito que abraça um vasto conhecimento de produtos e matérias-primas, olhando para a restauração como promotora de inovação e ferramenta para disrupção de preconceitos enviesados em artigos de segunda mão.
FOTO: GRINGA
Na Gringa, só existe um caminho para a excelência dos produtos: uma curadoria que vise transparência no processo, desde a procedência dos itens até a renovação da sua condição, entregando produtos ainda mais valorizados, independente de por quantas mãos eles já tenham passado e propagando uma moda que incentiva não somente uma economia, mas também uma energia circular.
O que consumimos mostra a história que queremos contar, através de quem somos e do que vestimos. As suas roupas e as suas escolhas quebram padrões ou reforçam estereótipos?