Transformando resíduos têxteis em novas possibilidades
Sendo a indústria têxtil responsável por 5% do gás carbônico emitido na atmosfera, segundo o Carbon Free Brasil, a moda torna-se também responsável por grande parte das problemáticas que giram em torno da poluição mundial, que tem o seu combate marcado hoje, no dia 14 de agosto, e vem sendo tema recorrente em debates sobre a sustentabilidade no viés socioambiental.
FOTO: FASHION REVOLUTION
Isso ocorre devido ao fato dessa indústria contar com matérias-primas e processos altamente poluentes em toda a sua cadeia produtiva e até mesmo em seus usos e descartes. O poliéster, por exemplo, uma fibra muito utilizada por seu baixo custo e alta resistência, é proveniente do petróleo e demora, em média, 200 anos para se desintegrar, sendo a pior opção na reciclagem têxtil, já que depende totalmente do processo químico para ser reaproveitada.
Mas o algodão e as fibras naturais, apesar de terem a possibilidade de serem desfibradas em um processo manual, o que aumenta as novas possibilidades em torno da transformação dos itens, também precisa de atenção ao tratarmos de poluição: essas fibras geralmente possuem um alto nível de agrotóxicos em seu cultivo, resíduos que, apesar de não serem tão poluentes como os provindos de polímeros, são também liberados na atmosfera e causadores de danos irreversíveis.
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Independente da origem de suas fibras e dos processos recicláveis pelos quais passarão, a indústria da moda tem se voltado cada vez mais para a reciclagem têxtil como solução para a transformação de resíduos em novas possibilidades, podendo serem elas novos artigos têxteis, como tecidos e solados, ou até mesmo itens de marcenaria. Não importa qual seja o novo fim dos resíduos, a moda se preocupa cada vez mais na junção entre a inovação e a estética em prol do meio ambiente e da ascensão de marcas e designers.
FOTO: GRUPO EUROFIOS
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No mercado de luxo vemos essas iniciativas muito relevantes no setor, como a Stella McCartney, marca britânica pioneira em produtos vegetarianos, veganos e reciclados, que conseguiu atingir texturas, acabamentos e designs muito semelhantes aos dos produtos vistos no mercado sem essa preocupação, oferecendo aos consumidores artigos que são desejo de tendências sem nenhum tipo de degradação ambiental.
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Já na indústria brasileira, temos a Veja, vanguardista na reciclagem da borracha da Amazônia, que além do reaproveitamento de matéria-prima com uma alta resistência já aprovada pelo mercado, também fomenta o comércio em uma região rica em recursos naturais e altamente explorada de maneira indevida.
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Além disso, a marca que em territórios nacionais é comercializada como Vert, recentemente investiu em ateliês de curadoria das peças em Berlin, recebendo itens usados para reparos e/ou reaproveitamento completo, ressignificando e transformando os seus produtos dentro da sua própria cadeia produtiva, aumentando a vidas útil deles e reforçando a circularidade.
Isso nos faz entender que a transparência é a ponte para o desenvolvimento sustentável: segundo o Fios da Moda, aproximadamente 57% das pessoas estariam dispostas a reciclar as suas roupas se soubessem que elas estão, de fato, sendo recicladas, mas infelizmente parte da população mundial se quer sabe como e onde fazer esse descarte de forma apropriada e responsável.
Para que a moda conserve e restaure a natureza sem esgotar os recursos naturais e sem degradar, poluir ou prejudicar o meio ambiente, como um dos manifestos do Fashion Revolution propõe, é preciso que as inovações de reciclagem têxtil avancem, sendo necessário que os consumidores e profissionais de moda cobrem as marcas e busquem soluções individuais e coletivas em torno desse processo.
Neste dia Do Combate à Poluição, propomos um novo olhar para a moda que acompanhe as novas possibilidades que enxergamos nela: além de ser veículo de comunicação não apenas de um contexto sociocultural, mas também como porta-voz de necessidades ambientais e urgência na circularidade, essa indústria carrega a responsabilidade e o poder para que as criações façam mais do que gerar desejo, mas também apresentem possibilidades de reparo, reuso e ressignificação.